Musical

Nascendo, rompendo, rasgando,
E tomando meu corpo e entao eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louco, alucinado e crianca
Sentindo o meu amor se derramando
Nao da mais pra segurar” ( Explode Coração)

São poucas as músicas que me emocionam pela simples razão de existir. Não por evocar pessoas ou momentos passados, sentimentos presentes ou projeções futuras mas pura e simplesmente pela sua beleza. O caso mais conhecido e o qual eu sempre me refiro, as Bachianas do Villa Lobos. A Maria Bethânia é outra.
Quando o documentário Maria Bethânia – música é perfume estreou, eu fui ver no cinema. Não lembro a data exata mas lembro que era um período calmo da vida, sem grandes emoções, seja para o bem ou para o mal. E eu, durante todo o filme não consegui controlar as lágrimas, que desciam incontroláveis, desembestadas, selvagens. É a gravidade, é a voz, é o samba, é o drama, é, sobretudo, a emoção. É a possibilidade de enxergar a alma de alguém num mundo onde almas, parece, estão em extinção.
A Maria Bethânia é daquelas pessoas pra se ouvir sem a ostentação, sem precisar dizer a todo mundo: “é disso o que eu gosto”. Até porque, pode-se não gostar, mas o talento é inegável. Inegável o efeito daquela voz grave, dentro daquela mulher cantando descalça, segurando aquele microfone de fio que parece um chicote. E tudo aquilo, é muito nosso. Mesmo que eu não tenha ido nunca à Bahia, mesmo que não saiba nada da vida regional, interior, mesmo que minhas relações tenham sido menos dramáticas e os amores mais brandos. Não tem razão, não tem explicação e nem precisa.
Isso pra mim, é a música tangível. A que me faz sentir. Não é aquela que eu canto quase todos os dias. Acho que, a música brasileira, apesar de toda a minha identificação com a americana e européia, é a que realmente fica. Só abrindo exceções em tamanho de comoção para a música que evoca outros séculos que nunca vivi, ancestrais que correm pelo sangue, como as músicas típicas espanholas com aquela guitarra e violão característicos, ciganos, aquela coisa andaluza com as castanholas e os fados portugueses, que são memórias que tenho vivas, passadas de dentro, de pais para filhos, por muitas gerações.

~ por M. em março 11, 2007.

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