A vida é pra dentro e agora

Crimes hediondos, incêndios em ônibus, pessoas desesperadas, construindo muros altos,s e isolando, tendo crises de pânico.
– Qual é a sua reação à isso?
Não sabia dizer, procurava algumas palavras, puro senso comum. É, uma coisa realmente horrível. E não tinha mais o que dizer. Não sentia isso, não sentia nada daquilo. Nenhuma das coisas que considerava externas realmente passava por ela, não tinha nada a dizer sobre a criança arrastada, não viu, não conhecia, nunca soube o que era aquilo, nunca soube perdas de verdade, perdas de morte. Descobriu, dias depois. Nunca se envolvia com as notícias de jornal. Todos os dias, perda, guerra, escandâlos. Todos os dias, as mesmas desgraças, pingando sangue, alimentando o sadismo alheio.
Permanecia impassível.
Parecia outra cidade, outro subúrbio qualquer que não seu próprio. Outros ônibus, diferente daqueles que tinha que pegar todos os dias. Não, não era consigo.
Era inapropriado ser socialmente insensível. Caminhava como se não colocasse os pés no chão, olhava com aquele olhar de quem ve de fora. Amava a sua cidade mesmo quando aconteciam coisas com ela, que nunca era horríveis.
Nunca aprendera a enxergar brutalidades, a não ser que fossem muito pequenas.
– Qual o nome disso?
– É alienação, eu sei.

~ por M. em fevereiro 13, 2007.

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