Figuras de linguagem

As vezes eu acho que poder falar é uma capacidade dispensável ao ser humano. Na maioria das vezes, não serve para nada, não parece ser tão útil quanto os polegares opositores. A gente já sabe que dificilmente duas pessoas se comunicam, na maioria das vezes, cada um está falando de uma coisa completamente diferente e ambos achando que estão se entendendo maravilhosamente bem. O que fala, fala uma coisa e o que escuta, escuta outra. A gente escuta a partir da gente e não exatamente o que o outro fala e mais todas aquelas coisas que se vê em introdução à lingüística e em teoria literária.
A gente fala e se põe a disposição pra escutar e pra falar também. Apesar disso, estão todos sempre procurando eufemismos para não dizer tudo o que precisam, ou querem.A gente aprende a ler, aprende a falar e em algum momento, aprendemos que devemos suavizar tudo, não sermos rudes, é a tal da educação. Pronto, taí a castração. Todos os diálogos começam a ser contruídos em cima de inúmeros medos. E desaprende-se a negar. Aprendemos que as palavras sempre querem dizer outra coisa ao invés do que realmente são. No caso das conversas, de nada valem os verbetes de dicionário. Como por exemplo, você ir no médico e ele dizer que você precisa de estabilizadores de humor, a tradução, de anti depressivos. Tudo pode causar melindres, encândalos e lágrimas. As pessoas se distanciam mais, se comunicam cada vez menos e dá pra ver o vão entre elas aumentando.
E ai de quem levar pro lado literal!

Se nem mais a palavra literal tem o sentido de ser, realmente, literal. Quantas pessoas usam errado e nem sabem o que literalmente quer dizer. Quantos não dizem:
– Estou com uma fome de leão, literalmente.
Falar pra quê, então? Eu não consigo nem ser literal.

~ por M. em fevereiro 16, 2007.

2 Respostas to “Figuras de linguagem”

  1. “Creation seems to come out of imperfection. It seems to come out of a strive and a frustration. And this is where, I think, language came from. I mean, it came from our desire to transcend our isolation and have some sort of connection with one another. It had to be easy when it was simple survival, you know, ‘water’, we came up with a sound for that, or ‘tiger behind you’, we came up with a sound for that. But when it gets really interesting, I think, is when we use that same system of symbols to communicate all the abstract and intangible things we’re experiencing. What is ‘frustration’? Or what is ‘anger’, or ‘love’? When I say ‘love’, the sound comes out of my mouth and it hits the other person’s ear, travels through this byzantine conduit in their brain, through their memories of love – or lack of love. And they register what I’m saying, they say yes, they understand, but how do I know they understand? Because the words are inert, they’re just symbols, they’re dead, you know? And so much of our experience is intangible. So much of what we perceive cannot be expressed. It’s unspeakable. And yet, you know, when we communicate with one another, and we think that we’re connected and we think that we’re understood, I think we have a feeling of almost spiritual communion. And that feeling might be transient, but I think it’s what we live for.”

    waking life.

    meus comentários: What is ‘frustration’? Or what is ‘anger’, or ‘love’? é tudo tão intangível e de certa forma – mas não completamente – abstrato que cada um tem uma compreensão. é diferente de apontar pra água e concordar que aquilo é água. ao mesmo tempo, não se pode estabelecer uma relação de posse, porque não se objetifica “amor”, “raiva” e “frustração”. e, por acaso ou não, os exemplos do autor são coisas que são transitórias. a nossa noção de “amor”, “raiva” e frustração vem do ato de localizar essas coisas no tempo e no espaço. por isso que tudo remonta à experiência que se tem – incompleta e imperfeita – de cada uma dessas palavras (through their memories of love – or lack of love). como se relaciona a seqüência de sons a determinadas sensações. e isso é muito íntimo. mas nada impede de dois seres apontarem pra um troço intangível e dizer: é amor. e concordarem com isso.
    but how do I know they understand? we don’t.
    when we communicate with one another, and we think that we’re connected and we think that we’re understood, I think we have a feeling of almost spiritual communion.

    mas não estamos conectados. isso é porque continuamos a nos espelhar nos outros. o que vemos é nós mesmos, então pretendemos erroneamente (pretenciosamente) que o outro sabe o que queremos dizer com “amor”, “raiva” e “frustração”. mas não sabemos nem o que nós mesmos achamos que são essas palavras. acho que a gente não fica vivo para os outros, mas sim pra continuar achando que os outros são como nós (o que não são).

    isso porque i miscommunicated with you. eu ia te falar isso por msn, e você saiu bem na hora.

    o negócio de sentir-se amputado da idéia foi exatamente o que aconteceu comigo, eu te disse. ainda estou sofrendo as conseqüências disso.

    mas excelente o texto. foi tudo o que eu quis dizer nos scraps pro meu amigo, que eu colei aí em cima.

  2. “Words are very unnecessary, they can only do harm”

    Ok, eu ando um tanto old school… quoting Depeche Mode é um tanto assustador!

    Adorei o texto, como sempre!

    =****

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