Out of wonderland

Chega a hora na vida de qualquer mulher em que ela dá-se conta de que é uma mulher. Com a erotização precoce, isto não acontece quando ela cede sua virgindade ao seu marido. Num período em que adolescentes fazem sexo enquanto ainda brincam com suas Barbies, perde-se todo referencial da passagem feminina para a vida adulta. Antigamente era a menstruaçao, que indicava que, a menina (ou no caso mulher, uma vez que já havia se tornado uma “mocinha”) já estava pronta ou deveria estar, para a vida adulta. É claro que não estava. É claro que se chafurdava em dúvidas mas, a impressão que eu tenho é que, quando tudo era decidido, quando tudo já tinha um tempo pré-determinado, ou as pessoas não contentes com isso se rebelavam, ou aceitavam e eram felizes ou tinham dúvidas, mas não eram atormentadas por elas.

Então Lewis Carroll escreveu Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho;o percalço de uma menina que, perdida estava. Ela seguia cegamente,sem saber bem o porque de sua curiosidade, um coelho branco.

De acordo com a simbologia animal, o coelho é símbolo de uma vida nova e da fecundidade da natureza feminina. Nesta busca incessante, Alice cresce e diminui durante vários momentos da narrativa simulando uma instabilidade com relação à sua própria identidade. O que ela seria, no que estaria se tornando, quem a diria o que é se tornar uma mulher?

Alice nunca consegue colocar as mãos no coelho e o que descobre, é uma vida adulta confusa, onde existem mentiras e tramas.Numa tentativa de refugiar-se do que não conhece, ela foge e ao fugir, já no final do segundo livro, torna-se adulta. Enfim, cresce, não sem antes passar por um itinerárioturbulento de quem não sabe seu tamanho.

Hoje, eu não sei o que é crescer. Muitas vezes, eu acho que sou mulher, mas algo em mim, atrai-se terrívelmente para as coisas da infância. Já ouvi inúmeras vezes a frase para que eu cresça porque comprei algo infantil demais.

Fracassei numa primeira tentativa de casamento, não estávamos prontas. Mas nos queremos mutuamente e tanto e com uma segurança de dizer para sempre e soar nada mais do que natural. Temos pressa da vida a dois. Temos pressa da casa e de responsabilidades.

Mas que sei eu de responsabilidades? Semana passada fora a primeira vez que fiz, sozinha, um prato um pouquinho mais elaborado mas eu não poderia estar mais longe de saber cozinhar. Não sei fazer faxina. Eu realmente tenho dúvidas sobre o que é ser adulto. É pagar aluguel? É se estressar com contas a pagar? É pensar antes de fazer e tomar atitudes impulsivas? Então, acho que não sou adulta.

E então, onde fico eu e meus 23 quase 24 anos? Em que categoria me encontro? Que trajetória terei de fazer? Ao invés de coelho, eu só ouço um incessante tiquetaquear de relógio que não me deixa dormir e nem me guia. E é duro perceber que, em questões de guia, não há ninguém para fazê-lo.

Mas o tempo, ele escorre.

Em uma última referênciaà Alice, uma das partes mais significativas é quando ela em meio a um labirinto, pergunta ao gato de Chesire por onde deve seguir e ele lhe pergunta para onde ela quer ir. Ao responder que não sabe, ele diz que, então, todos os caminhos a levariam a algum lugar. E que caminhos longos ou curtos, tortuosos ou fáceis terei eu de atravessar? E tanto importa o destino quanto a riqueza e grande valia de uma travessia que começou em quatorze de dezembro de 1985? Tem sido por demais doloroso, brilhante, não – tangível e nem descritível, tem sido permeado de culpas e erros mas, acima de tudo, tem sido meu. Meu, diferente de todos os outros, meu, daquela que parece incapaz que pode conseguir as coisas que achava mais distante.

Corro atrás de muita coisa mas diante de tantas outras, sinto que estagno.

Corro atrás, corro atrás, corro atrás e não alcanço. Ao que me parece, o peso dos meus erros me arrasta para trás e eu não tenho uma boa oratória, não sei como expôr intenções honráveis e estas nunca tem um custo alto para atingir seu fim.

Há mais de ano que meu coelho branco se chama estabilidade – com liberdade.

~ por M. em agosto 26, 2009.

3 Respostas to “Out of wonderland”

  1. Eu acho que sim, ser adulto tem relação com assumir responsabilidades. Não necessariamente com aquelas que montam um esteriótipo “adulto”, como as contas, o stress, a falta de tempo pra atividades de prazer etc. Acredito que seja uma responsabilidade mais por ter que responder por sua vida sozinho, sem ficar cogitando que terá, no final das contas, alguém pra ajudar se der tudo errado, por ex. Acho que é planejar, sustentar e seguir sua vida com a capacidade financeira e emocional de conseguir estar por conta própria. Vejo por aí.
    Não sei quando ocorre tal passagem. E também vai depender de pessoa pra pessoa. Uns terão a estabilidade financeira, mas faltará a emocional; e vice-versa. Outros não terão nenhum dos dois.
    Tem aquela história de debutante que, hoje em dia, nem sei se tem a mesma força que antigamente. Da menina subir no salto durante a cerimônia e ser apresentada para a sociedade como a tal mocinha. E depois ela casa, se relaciona com seu marido e tem filhos – o que, a tornaria mulher, adulta em certo sentido. Essa “obrigação” social da família parece que ajudava a condicionar melhor o “crescimento”, mas isso não quer dizer que eu defenda ou recrimine. Só acho que, é verdade, as dúvidas podiam até existir, mas o compromisso com a vida de “mulher adulta” daqueles moldes era tão mais forte que ajudava a moldar essa mulher.
    Certas situações atuais parecem mais complicadas. A gente deseja ter uma casa, um carro, um emprego, mas muitas das vezes (e vejo isso entre amigas tb) não existe aquela vontade de ter uma casa pra construir uma família e tomar responsabilidades de vida. É mais uma continuação da juventude, mas na sua casa própria. Será que é o mesmo grau de responsabilidade que faz a pessoa ser considerada adulta? Não sei.
    Não sei também até que ponto é importante saber-se crescida ou não, ou se é melhor apenas ir fazendo o que está ao alcance para levar uma vida que agrade.
    Essas referências à “Alice…” são legais pra se pensar tudo isso de uma forma mais interessante. E pra acreditar que ao final de uma história nossa pode haver crescimento.

    Beijos!

  2. Pensei bastante no que dizer, até mesmo se eu tinha algo para dizer. Crescimento existe em tudo, numa perda, num desgaste, num aprendizado. Vida adulta? isso é meio overrated, um conceito que deveria nos deixar sérios, preocupados com dinheiro, trabalho, hipoteca e um casamento e, do jeito que as pessoas estão com conceitos errados sobre o momento e a pessoa para se casar, um divórcio e, claro, as aparências. Sabemos bem que tudo isso é fantasia também, ainda mais quando começamos a sentir coisas “da vida adulta” ainda jovens, ter um emprego/estágio, ter responsabilidades, arcar com as conseqüências dos nossos atos e dos atos dos outros, se dar mal em relacionamentos, ter uma vida fudida, querer se matar, tudo isso faz parte da tal vida adulta e sei que vc, como eu, passou por elas ainda cedo. Você falou de responsabilidades como se fosse apenas cozinhar, passar, fazer faxina, isso se aprende, até por necessidade. Pagar a conta é algo que vc TEM que fazer, a novidade é o TER que fazer isso, pois morando com os pais muitas vezes nem se pensa em contas. Ser adulto pode ser ter perseguido o coelho branco e depois vê-lo como inalcançável, pode ser tantas coisas.

    De resto, não sei o que dizer, não tenho as respostas nem pr’as minhas perguntas. rs

  3. o problema é que quando não se sabe qual o destino, você pode passar por ele e nem se dar conta.

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