Continuação

E depois de ter acordado e lido seus poemas, aos quais não dei atenção, não eram sobre algo que pudessem me interessar, a priori. Ou era sobre coisas que eu ainda não entendia, que a idade ainda não me trouxera.
Então eu sozinha no quarto da psicanálise, mitologia, literatura e filosofia. Com tudo o que eu sempre quis ler na vida em francês, inglês, português, grego e alemão. E ele entrou novamente. Eu deitada no divã no qual havia dormido, não sei que horas.
Falava da vida que passou e das coisas e dos erros e das impossibilidades e impossibilidades que um dia foram possibilidades. Me perguntou se eu nascesse de novo, se faria as coisas diferentes. E eu, recém 23 completada, respondi que sim.
E então ele me perguntou de seus poemas e sobre um verso, em especial. Me perguntou se eu sabia o que era liça (pois era isso que segurava minha interpretação). Não, não sabia. Após me explicar, me perguntou:

– Você está disposta a guerrear sem lutar?
– Não!
– Você parece que tem nove vidas! Não desperdice a única que tem.

Lembrei de Perdas e Danos e de alguém num jantar dizendo: Damaged people are dangerous. They know they can survive.

Então, ele disse que algum dia, um namorado despencaria sobre mim ( e reforçou: sim, é esta a palavra, despencar) e falou entre outras coisas que eu esqueci, que essa fallen person iria me elogiar por méritos que não tenho mas que terei aos seus olhos.
Não pensei nisso. Não pensei em namorado, ou namorada. A verdade é que procurei o não – pensar. E consegui.
Exceto pelo passado, que nos marca e pelos méritos que enxerguei nos outros e eles não possuem.
Ao final, o velho chegara ( e em voz alta, num convite) à mesma conclusão que eu. Eu deveria ir lá, mais vezes.

~ por M. em dezembro 21, 2008.

Uma resposta to “Continuação”

  1. A gente sempre está colocando méritos questionáveis sobre as pessoas, e as pessoas sobre nós. É meio impossível fugir disso, ainda mais quando nos afeiçoamos à pessoa. Em relacionamento afetivo, então, a coisa pode piorar. Mas se você coloca um mérito e – mesmo que ele não exista – você julga reconhecê-lo na pessoa, que mal pode haver? O mal, na minha opinião, é não levar em consideração essa capacidade de atribuir predicados que talvez a pessoa nem tenha. Mas, se sabemos que temos essa possibilidade, de aumentar a lenta para ver quem amamos, é só ficar alerta, entender que isso acontece, e desfrutar do prazer que pode dar acreditar nessa cosntrução – mesmo que não real. Lembrando sempre que não foi a pessoa que pediu que a gente desse méritos; mas que fomos nós que lhe demos o que achamos que ela tinha.
    Têm horas que é melhor não pensar nada. Como pensar em um futuro namorado ou namorada que despencará. Para mim, é o tipo de coisa a não se pensar, porque queira ou não queira, traz uma crença, uma expectativa de que vamos encontrar essa pessoa. E a espera pode matar de ansiedade e cansaço.

    Será que guerrear lutando é desperdiçar a única vida? Talvez seja aproveitá-la, jogar com tudo, apostar na intensidade. Lógico que temos aí um preço a pagar; levar tudo na intensidade é uma loucura. Mas, eu não sei como se faz para guerrear sem luta. Deve exigir uma sabedoria que eu não tenho.

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