Das contradições

As vezes eu penso que tomar determinado posicionamento acerca de algo ou decidir-me por alguma coisa, nem vale a pena.
Nós, como seres humanos, somos todos contraditórios por natureza. Eu, entretanto, elevo isto à sua potência máxima. Eu sou do tipo que demoro para me decidir, fico dias, meses, anos até remoendo alguma coisa, pensando, to be or not to be, to do or not to do? Dúvidas, sempre.
Daí eu acho alguma certeza. E num intervalo menor que uma semana, eu mesma me encarrego de fazer minhas certezas caírem por terra, naqueles meus inevitáveis – ou assim me parecem – acessos de impulsividade.
Se fosse para me rotular, eu não me diria uma pessoa impulsiva. Agora mesmo, enquanto digito estas palavras, estou-as repassando todas mentalmente antes que cheguem por meio de minhas mãos até o teclado. Eu sempre pretendi como constante. Chata e entediante, até. Aquela pessoa que é atrelada intimamente a certas opiniões, valores e idéias.
E aí vem estas forças tão determinantes que atuam sobre mim, tomando conta mesmo, num curto espaço de tempo. Algumas pessoas mais drásticas chamariam de possessão. Eu não tenho esta pretensão e não nego as “minhas culpas”, tendo a não colocá-las sobre terceiros, a acumular tudo sobre e em mim. Resta-me somente (tentar) me abrigar de vez em quando em teorias psicanalíticas sobre ímpetos os quais não posso conter. E, não fazendo mal a ninguém, embora não sendo exatamente o modelo de uma pessoa socialmente aceita, penso: é, talvez seja até bom. O que tiver que ser, será. Talvez isto me poupe algumas horas de consultório e não me trazendo peso algum, vejo até como certo alívio estas minhas experiências catárticas, embora seja eu mesma o objeto de minha própria catarse.
A impressão que me queda é a de que minhas certezas são, muitas das vezes, inviáveis. Impossíveis até. Eu estou aqui como um ser, no mínimo dúbio. E que mantendo esta consciência, aliada com a racionalidade que eu sei que tenho, tudo correrá, quase que independente de mim.

~ por M. em novembro 26, 2007.

2 Respostas to “Das contradições”

  1. Veja por um lado que pode ser reconfortante: acho que ninguém tem certezas nessa vida. Até mesmo quem diz que tem, no fundo, tem lá suas dúvidas.
    Eu particularmente duvido da certeza. Desconfio dela. Porque uma certeza depende de coisas que variam… em primeiro lugar, na minha opinião, depende da nosso própria concepção, do nosso ponto de vista. E não há nada que varie mais que nós mesmos, não é? (Comigo é assim, rs).

    Então, Mayra, “Dúvidas, sempre” eu compartilho com você. E acho que isso legal, sabe? As certezas podem tolhir tanta coisa… as dúvidas me remetem a algum movimento, uma certa inquietação – e isso pode ser positivo.

    Eu não imagino como é ser alguém impulsivo. E também não fiz o link entre “certezas caírem por terra” e “impulsividade”. (Deve ter a ver com algo específico na sua vida, que me escapa.)
    Às vezes penso que deve ser bom ser impulsivo porque, em algumas situações, pode ser necessário. Só não sei se em todas, porque também me parece um pouco perigoso agir por impulso… não sei, tenho tanto medo de estilhaçar a mim, que meço tudo antes de fazer – sou a anti-impulso em pessoa, rs.

    Não sei em que sentido você usa “possessão”, mas vou levar pro sentido comum.. de possuir algo ou alguém… e dizer que lidar com isso não parece fácil. Dizem que é coo uma força incontrolável, eu ainda não quis na prática possuir ninguém (hahaha), então, não posso dizer por conta própria…

    No final de tudo, acho que as coisas correm quase sempre independentes de nós mesmos, e nós é que vivemos acreditando o contrário…

    Beijos! o/

  2. cara, até eu não estar ocupado vai levar umas semanas. acho que você devia me interromper. 😛

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