Mothering kind

Eu presenteei alguém que foi como dar um tiro no escuro. Realmente no escuro.
A gente tem esses arquétipos femininos tão arraigados que qualquer pessoa que fuja a um deles, causa um estranhamento.
Supõe-se que todas as mulheres gostem de chocolates e flores. Que todas tenham essa indiscutível intuição feminina, que todas queiram se casar e serem mães, um dia.
Eu amo chocolate, adoro flores. Entretanto, se pudesse, eliminava todas as rosas do mundo. Pra mim, elas já atingiram uma carga pesada demais. Eu as chamo de “flores do perdão”, sabe, aquelas que os homens usam quando querem se desculpar de suas cagadas, ou quando querem conquistar qualquer vagabunda. Rosas são um clichê insuportável.
Eu não sei até hoje se acredito em intuição feminina. A minha, pelo menos, é meio quebrada ou eu a confundo com as minhas variações hormonais mensais.
Eu quero me casar, casamento religioso mesmo e vestido branco. Mas sei que devido à minha dualidade, há 50% de chances de isso não acontecer. A não ser que eu me case num desses lugares modernos da Europa, com a cerimônia celebrada por um sacerdote qualquer e eu com um smoking branco. Ah, sim e chegaria aqui, provavelmente a minha união não seria válida. Eu quero casar, mas eu não sei se eu sou do tipo casável.
E quanto a ser mãe, bem, esse é o assunto mais delicado. Supõe-se muitas vezes que a maternidade é o ponto alto da vida de uma mulher, a razão dela existir. Eu acho que nasci sem o mothering gene. Claro, que eu saiba, está tudo aqui dentro de mim, direitinho, mas eu tento ignorar tanto quanto posso.
Eu acho que o “ser mãe” é uma coisa que já nasce com a pessoa. Muitas sonham desde meninas com o momento da maternidade. Eu não. Ao invés de brincar de bonecas, eu sempre preferi as Barbies, que é muito diferente de brincar de casinha.
Eu tenho certeza absoluta, eu não nasci para ser mãe. Eu não quero e não é egoísmo. Egoísmo seria ter um filho sabendo dessa minha certeza, passar por cima dela. Convenhamos, eu não sei lidar com crianças. Eu fico completamente histérica – e entediada, depois de um tempo. E isso não vai mudar. Eu tenho inveja do brilho que as grávidas tem, mas nada que vá me fazer falta.
Eu não tenho isso, eu não tenho essa vontade e eu não vejo essa possibilidade acontecendo, nunca. Eu tomo todos os cuidados para isso, quando e se necessário.
Eu não me apego nem à idéia. Não vai ser uma criança que vai suprir todas as carências da minha vida, e mesmo o amor que eu tenho de sobra, eu não vou precisar pôr um neném no mundo para dar a alguém. É inconseqüência.
E eu deveria me sentir mais ou menos mulher por isso?

~ por M. em março 31, 2007.

Uma resposta to “Mothering kind”

  1. Pela sinceridade: deveria se sentir humana por isso.

    Excelente a observação quanto às rosas.

    Acho que, no fundo, todos têm um sentimento íntimo de querer casar. Não sei, varia de pessoa pra pessoa, mas vejo casamento além da cerimônia e do vestido branco – o que é lindo. Quero dizer: uma simples união, ir morar junto, essas coisas… pra mim já saõ válidas. Digo isso porque então, dentro da minha visão, você tem 100% de chance do ‘casamento’ acontecer. Mas entendo que você se referia aos detalhes da cerimônia e etc. 😉

    Eu tenho tido vontade de ter um neném, haha, mas lógico que daqui há muito tempo porque atualmente eu não tenho estruturas para tanto – psicológicas e monetárias, rs.
    Eu ia até escrever sobre isso no blog…

    Beijos!

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