I can teach you

Eu já tentei explicar mais de uma vez, a relação que eu mantenho, desde que nasci com professores. Com os meus próprios e também com os que nunca foram nem nunca serão. Talvez tenha alguma influência o fato da minha família ser tradicionalmente, uma família de professores. Eu não tenho muitas notícias de médicos, advogados, engenheiros, mas professores, são muitos. Começando em casa, com minha mãe.
O colégio em que eu fiz o pré escolar, lá no centro, era um lugar onde todos se conheciam.Eu estudei lá durante nove anos e era uma das queridinhas. Conhecia todos os diretores, os funcionários, as psicólogas, todo mundo. Foi então que eu comecei a desenvolver laços realmente afetivos. Tinha professoras que eu amava, amava realmente. Tinha umas que eu perdia a minha concentração, olhando. Eu era uma aluna que as professoras chamavam para pentear os cabelos delas enquanto o resto da turma estava fazendo seus deveres. Ninguém entendia aquilo, acho que nem eu. Mas uma das melhores lembranças da minha infância era ter nas mãos os cabelos lisos e perfeitos da tia Ana Cláudia. Lembro-me, inclusive de ter perguntado qual era o shampoo que ela usava, crente que o meu cabelo ia ficar igual o dela ( ah, sim… ela usava Pantene).
Tinha o tio Flávio, professor de natação, a tia Rose, a minha primeira professora de balé, tia Marisa, que foi minha professora no pré e depois na segunda série. Tia Dionise, que não era nada demais, nem bonita era mas que eu passava horas olhando e, é claro, a tia Cássia, a professora que me alfabetizou.
Então veio a tia Rosinha, a minha outra professora de balé, professora do Maria Olenewa, que, além de ser uma das personificações da palavra bondade, era a Fada Açucarada no Quebra Nozes, imaginem isso na cabeça de uma criança cujo espetáculo preferido e mais mágico do planeta, era o Quebra Nozes (ainda o é).
E o último dos tios, o tio George, que passou um ano me preparando para o Pedro II, e me chamava de “a minha margarida”, um dos homens mais homens que já conheci e muito, muito tempo depois, descobri que ele era gay.
Depois veio o colégio, onde os professores me chamavam pelo nome. Aí, eu achei que as coisas estivessem saindo muito diferentes. Fora um ou outro professor, eu não me via criando laços com nenhum deles, apesar da evidente benevolência com que algum me tratavam ou o carinho com que alguns continuavam a se lembrar de mim e a me cumprimentar. Essa minha visão, mudou quando a Jaqueline de artes, que na época que me deu aula estudava com a minha mãe contava como eu era querida por todos os professores, sem excessão, que só comentavam coisas boas de mim nos conselhos de classe.
A Silvana, foi algo indescritível, como ela mesmo diz, o que nos temos, o que criamos, é muito tácito. A capacidade que temos de levarmos, sem esforço, uma a outra as lágrimas, é demais. É tamanho que eu não sei como dizer, e nem preciso. Fica tudo assim, subentendido.
E então, veio o Diogo e foi nessa época de vestibular que tudo mudou. Eu não era mais só a aluna, não era mais a margarida, estava caminhando para a feminilidade. As relações mudaram também. Os professores meus começaram a enxergar possibilidades além. Vieram os casos, os pedidos para ficar, os romances, as confissões. Não só de uma pessoa. E mesmo assim, eu nunca me iludi, nunca fui uma aluninha apaixonada que mandasse cartinhas cor de rosa com corações. Eu mexia com a libido – ainda mexo, de um bando de homens perto de chegarem nos seus trinta anos. Eu sabia, eu sempre soube que era isso. Não importa o que me dissessem ao pé do ouvido, não importam as declarações. Se alguma vez eu me apaixonei, foi por aquelas as quais eu penteava o cabelo, ou por aquelas doces bailarinas.
Na faculdade, mudou outra vez, eu vivo reclamando que em períodos, é muito díficil chegar perto das pessoas. A gente dá o nosso jeito. E acaba protagonizando uma das cenas mais fofas: uma professora vindo correndo atrás de você, gritando seu nome pelos corredores para te dar um beijo de feliz aniversário. É, é o tal carisma.
Mas, até hoje, eu nunca achei que fosse viver um grande amor com nenhum deles. Minha relação é estranha sim, mas sempre foi pé no chão, nada de deslumbramentos, nada de infantilidades e, talvez principalmente, nenhum sofrimento.
Sempre foi assim, leve. Espero que, quando for a minha vez, eu tenha uma aluna que pentei meus cabelos enquanto o resto da classe faz o dever.

~ por M. em março 13, 2007.

Uma resposta to “I can teach you”

  1. Que lindo esse texto. Ele é todo leve…
    Eu queria ter tido essa proximidade com os professores da escola, sabe? Acho bonito, e acho que existe muita troca com isso. Mas só no terceiro ano mesmo que me dediquei a isso. Mas não rendeu muita coisa, tanto que hoje eu não falo mais com nenhum deles – perdi os contatos.
    Agora, sempre achei que devia ser o máximo namorar um professor, haha! De alguma forma me ralizei lendo seu texto. Porque na minha vida real, isso nunca aconteceu, e, como voê mesma apontou, na faculdade é sempre mais difícil qualquer proximidade (mesmo a mais inocente). Os professores não ficam tão disponíveis, eu acho.

    Ah, minha mãe é professora também.

    Beijo!

Deixe um comentário