Não entendo porque nós caçamos o “ser” a vida toda como se fosse essa a única questão a nos mover. Acabamos ficando tão desperados nos preocupando em ser alguma coisa, ser alguém que terminamos por não sermos nada; embora alguns de nós, sendo nada consigam ser tudo, pois sendo vazios possuem uma enorme capacidade de encher-se, de preencher-se. Por que não pode ser uma questão de estar ao invés de ser? Afinal, se em português estar é um verbo distinto, separado de ser é porque enxergamos aí uma coisa que outros povos não viram. Abrimos nossas possibilidades e mão apenas para diferenciar “como nos achamos em determinado estado e/ou momento”. Não! Quantas são as certezas que você tem na vida? Quais são as nossas verdades realmente absolutas? Que você é um ser humano? Inegável. Mas se a necessidade de ser humano e somente isso, bastasse, não precisaríamos inventar uma figura de linguagem tal qual a animalização para representar aquilo de menos humano e mais grotesco ou primitivo temos em nós. Ser humano nos descaracteriza como animais, mamíferos, seres vivos, antes de tudo? Pertencemos a tantas classes e hierarquias que deveríamos pelo menos dar-nos ao luxo de transitar livremente entre elas e se a gramática nos legitima esse direito, por que não aproveitar?
Queria dizer à você: hoje, eu estou.
Não preciso de razões e motivos ou explicações para estar como ser. Estar é como ser com um pouco menos de intensidade e com talvez um pouco mais de satisfação de poder mudar de cenário a qualquer momento que se queira. Abro-me dentro dessa aparente vulnerabilidade transitória, mas feliz como que possuidora de um destino. Sei que me cabe um leque de opções e que posso abraça-lo e não só depena-lo, matando as que escolho, descartando-as caso não dêem certo.
A grande diferença desses dois verbos é que eles correspondem à maneira como você escolhe viver, como anda no mundo.

*texto meu, sem título e com data fictícia.

~ por M. em março 6, 2007.

Deixe um comentário