We should start a basement band

“we could start a basement band
guitar hooks caught in your hands
will travel through the west side nights
and drown out humming street lights”

Lembrava daqueles dias como fora ontem. Lembrava dos dias da sua adolescência, que agora de longe paracem-lhe que foram mais fáceis, mais doces, até.
Das festas que dava que duravam dias a fio, onde apareciam mil pessoas que nunca tinha visto na vida e todas aquelas pessoas de cabelo colorido da escola liberal que olhava todos os dias, aquelas pessoas legais, as pessoas que admirava; os outros, os meninos de cabelo sujo e camisa de flanela, as meninas de preto.Festas nas quais mantinham-se de pé à base de café, vodca, miojo, pipoca, cigarro, benzina e maconha e escutavam Peal Jam o dia inteiro.
Estava sempre deitada, os olhos vidrados nalgum ponto do teto ou numa certa pessoa cujos cabelos loiros e ondulados chegavam até a cintura. Escrevendo, desenhando, falando pouco numa voz baixa contrastante com os gritos e os gemidos de prazer oral e entupimento do sangue, drogas por todos os lados.
Foi numa daquelas festas que tomara uma das atitudes mais corajosas e estúpidas de sua vida. Trancara-se no quarto durante horas a fio para se declarar, completamente bêbada. Não conseguia lembrar de uma palavra do que dissera, só que repetiu-se muito ao longo das horas e sustentava o olhar de exaustão de quem não aguenta mais. Ao fim, deixou-se cair na cama, num cansaço mais mental do que físico de quem revela a alma.
Foi bem ali, sua primeira decepção, a primeira vez que passara dias na cama chorando e sem comer. Ali, todas as suas palavras perderam o fio e a razão de serem ditas e veio o medo que lhe acompanha até hoje.
Nunca mais disse porquês e nem surpresas.Nunca bom ou maus motivos. Se omitiu para o resto da vida.

~ por M. em fevereiro 26, 2007.

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