Aos letrados, amantes deles, das letras e suas literaturas

Uma das primeiras lembranças que tenho das aulas de teoria da literatura, das primeiras aulas, eu digo, do primeiro período, foi após lermos um conto de Cortázar, a professora ter dito (e eu anotado): na boa literatura, nada é gratuito.
Nas minhas coisas escritas, a impublicáveis, as secretas, as realmente ficcionais ou realmente confessionais, não há, nem nunca houve, motivos para definições de seres, personagens. Nunca houveram heróis nem heroínas, mocinhas, galãs, vítimas ou vilões.
Mesmo quando são diálogos, sempre tenta-se chegar a um pé de igualdade. Nada abaixo, nada acima. Nenhum olhar para o céu e muito menos, para o inferno.
São humanidades descobrindo vidas e possibilidades, dando – se espaço, tirando esse espaço, vez por outra, mas sem maldade, egoísmo, culpa ou arrependimento.
Alardear títulos de culpa, vítimação e vilania, assim como de bondade, altruísmo, histeria e tantos outros faz-se incoerente. É acenar com uma bandeira vermelha para um touro, numa arena. Suicídio lento.
A boa leitura, é feita nas entrelinhas, no máximo de afastamento de si próprio que seja possível conseguir, ainda que haja o paradoxo dessa impossibilidade.
Diz- se tudo no não dito, no não respondido, no não visto. Lê-se, errado.
Não é, entretanto, nosso papel nos explicarmos, ainda que os dedos cocem por dar uma nota que seja. Alguns erros, não valem a pena serem re-ditos. Será jogar palavras contra uma parede: elas batem de volta, iguais e vazias.

~ por M. em janeiro 7, 2007.

Deixe um comentário