É-me involuntário. Me sentir incomodada, remexer-me na cadeira, tombar para os lados, girar, olha pro alto, pra baixo, para os lados, para a janela e para a porta.
Tenho coceira nos dedos. E a voz baixa como de alguém que nasceu surdo. Não falo nada.
Não consigo dizer nem com a voz e nem com as mãos quando há alguém ao meu lado. Alguém que possa fazer a menor ameaça de voltar-se para o meu lado.
Não sou eu à meu lado, ao lado de alguém, sou-me menos ainda.
Acho sempre que tenho muito a dizer e nunca me permito dizer aquilo que realmente diria. Emudeço a cada pensamento que tento escrever, na tentativa de apreende-lo melhor e, junto com ele, apreender a mim mesma num instante qualquer. Como Peter Pan, querendo segurar a sua sombra, costurá-la em si.
Minha alma é tangencial à mim, ela pende do lado de fora,é solta em rajadas de tinta que meus dedos soltam.
Entretanto, ela é, em si mesma, inalcansável de alguma maneira. É o princípio de se ter uma alma, em primeiro lugar: nunca chegar nela.

~ por M. em dezembro 11, 2006.

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