The trick is to keep breathing

Lá, na banheira, só cabia ela. sentada, os dois pés encostados, apoiados no final da banheira, logo embaixo do buraco da água. A cabeça encostada, virada pra trás. Após poucos milimetros, ela entra e senta, numa banheira quase vazia. A água vem pelo outro lado, desce quase quente e quando chega à ela, já é aquela mistura de morno com o vento da janela que não se fecha. Não faz mal.
Tudo branco, as paredes, o chão, aquela banheira. Tudo estranho. No chão, pegadas pretas de sujeira fazem enojar qualquer um. Ela prefere olhar para cima, ou para os lados, nunca para baixo. O único barulho é aquela cachoeira fraca com o gás zumbindo. Se não fosse por ele, o barulho seria quase de alguém que faz xixi, alto.
Olhando para a parede, parece uma prisão, com uma janelinha quebrada no alto, donde não se pode nem sequer tentar fugir.
A água basta.
Enquanto isso, os gritos lá debaixo incomodam, são crianças jogando bola, brincando, correndo, urrando. Ela então mergulha, as mãos tapando os ouvidos, o ar preso nos pulmões, abre os olhos e vê, por baixo d’água o branco todo embassado. É estranho, é como ver as coisas de longe, é como a entrada do céu, ou como naqueles dias muito quentes, nos quais ao longe, tudo se mistura.
E fecha os olhos novamente.
Parece o fundo do mar, e ver, de dentro do fundo do mar, o seu corpo, a sua casa, o teto branco.Mas o mar tem limites; abrindo os braços, dá-se com os lados da banheira. Se fosse fechado, seriam duas mortes. É como um caixão, cheio de líquido.A única fuga é voltar à superfície.
Levanta, respira, e sobem de novo todos os gritos. Dessa vez, a água é menos límpida, aparece amarelada e meio turva.
É, você está limpa, a água, suja.

~ por M. em novembro 18, 2006.

Deixe um comentário