Ab-sentir


Ela está naquela fase, naquela que é entre o limbo, entre algum dos infernos de Dante. Saiu de alguma coisa, entrou em outra, só parará, quando atingir o fundo do poço.
Sai todo final de semana, quase. Se esquece de chorar e de sentir, bebe até perder essa sensibilidade, “toma abelha” pra dar pique, escolhe sempre o ab-sentir.
E tudo, os lugares, as pessoas, fazem com que, ela tenha uma falsa sensação de ser querida e de poder viciante. Tão viciante a ponto dela achar que está vivendo a melhor fase da sua vida. Tudo agravado pelo fato de ter pego (e sim, o verbo é, exatamente esse, por mais que ela sempre tivesse odiado usá-lo dessa maneira) uma das atuais meninas mais desejadas da noite, aquela que as pessoas vêem e comparam com as fanchas mais poderosas do mundo ficcional e dos reality shows, Shane e Kim, do ANTM, aquela na qual, até as mulheres héteros tem uma crush.
Tudo muito rápido, fácil, cirurgicamente indolor. Tudo muito intenso. Mais do que deveria, menos do que poderia. Tudo dentro dos limites do sofá de uma boate já meio vazia e ainda assim, mais do que os limites que a etiqueta impõe.
Pessoas assumindo novas posturas, re- descobrindo ou procurando o que são. Era e foi tudo na base do sentir, do aqui e agora. Deixa o resto pra amanhã. Pra amanhã descobrir que a outra tem namorada.
Então por quê as coisas aconteceram e aconteceram daquele jeito?
Talvez por que elas sejam mesmo assim, e que por mais que doa e por mais que nos revoltemos, vez ou outra as mesmas coisas, aconteceram do mesmo jeito e a clareza do dia nos dará novo susto.
Entretanto, terá vezes que o ego dirá: Valeu a pena.
Ela precisa tomar cuidado pra queda que está por vir, iminente, chegando à galope, respirando em seu pescoço, há apenas poucos metros atrás.

~ por M. em outubro 24, 2006.

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