Tantas vezes havia tentado aquilo que aliviava-se d ter finalmente conseguido.Tantas vezes em vão tentava machucar-se a si mesmo…Todas as suas tentativas frustradas estavam na lista de coisas que a faziam se sentir ainda pior. Não conseguia nem machucar a si mesma, ainda que tentasse.
Nem capacidade para dopar-se ela demonstrava. Se entupia dos remédios e traquilizantes errados.
Deixaram-na ir embora, deixaram-na mais uma vez com aquele vazio enorme e assustador, aquele rombo no meio do corpo. Ela tinha vontade d bater, mas não conseguia… Não conseguria nunca. Assim que chegou em casa e se viu sozinha, teve ânsia de fazer algo realmente estúpido.
Agora, pela primeira vez, ela via o sangue escorrer, vermelho e viscoso, deixando marcas secas em qualquer parte do seu corpo a qual encostasse.Não sentia mais dor, apenas deixava ele descer… vendo aquela cor viva tão contrastante.
Parou de bradar contra Deus, tinha, então um motivo mais forte ainda pra chorar… Finalmente havia transformado sua dor interna em física, tão profunda que era.
Não conseguia dormir, não conseguia pensar, não conseguia falar e agora também já não parava de sangrar. E enchia-se de um alívio mórbido, não de quem vai morrer, mas de quem tem coragem de saltar, e quebrar uma perna, e quebrar a bacia, e quebrar as costelas.
Quebrava tudo, um a um…com o alívio de que era uma parte do seu corpo a menos que sobreviveria. Uma parte a menos que precisava ser amada.
Existia sempre alguém para não querê-la, existia sempre alguém pr deixá-la caída na rua, existia sempre alguém pra rejeiá-la. Sempre.

~ por M. em novembro 6, 2005.