Inevitável

Ele sempre insistia, insistia e ela nunca concordava. Por mais que estivessem no ano 2005, existem certas coisas que parecem ainda ser erradas, era como se ela ainda acreditasse no pecado. Ela entendia aquilo como algo feio, que não devia ser feito nem por ela (que não era exatamente uma dama) além do que, tinha medo, medo da dor, medo dele mudar o que pensava dela, medo que começasse a tratá-la diferente, se ela enfim dissesse sim.
Em uma noite como qualquer outra que se encontraram, mais uma vez ele pediu, e após intermináveis segundos de silêncio, Clarice concordou. Dessa vez, o medo era outro, ela estava apavorada demais, com medo de ficar sozinha, por mais que soubesse que estando ali, ele ia continuar com ela, pelo menos aquela noite. Viu naquilo a oportunidade de se tornar mais próxima dele, mais próxima do que já tinha estado até então, até mesmo mais próxima do que quando tivera coragem de fazer com que ele adivinhasse a sua mais sórdida fantasia.
Só lhe restava esperar, agora que já tinha dito sim, mas deixou em aberto, queria se sentir livre para desistir a qualquer momento.
Aquilo era pura e simplesmente para agradá-lo, ela se emprestava ao papel de “doadora de prazer” apenas para satisfazê-lo, para mantê-lo ali, por mais tempo e quem sabe mantê-lo por mais tempo também à sua disposição, como estava sendo aquela noite, ela ligou, ele foi. Sentia dor, apesar dele estar fazendo um enorme esforço para minimiza-la. Ele estava preocupado com ela, a todo momento perguntava se ela estava bem, e recebia de volta uma resposta afirmativa enfadonha, nem um pouco tranquilizadora, mas ela mesma se recusava a deixar o seu lugar. Estranhamente, não doía tanto, ele realmente deveria estar se esforçando. Até que ele caiu na besteira de perguntar:
– Está gostando?
Ela que nunca viu motivo algum para mentir e que achava q a comunicação entre eles sempre fora aberta o bastante para permitir esses extremos de sinceridade, respondeu:
– Não!
Mas se recusou a parar, se era pra fazer, que fosse bem feito, e era bom que já fosse se acostumando, conseguir fazer uma coisa a mais seria sempre bom, talvez até útil, quem sabe um dia, não fosse aprender a gostar, embora muito duvidasse. Ela enfim se rendeu e se cansou. Pediu para parar, sentou e olhou-o como quem diz: eu quero conversar.
E ficaram ali e desse momento em diante, a noite continuou como outra qualquer, até o amanhecer. Conversas, cigarros, sono, sexo, e besteiras sendo faladas a todo momento.Ela permanecia surpresa, pensou também que tinha escolhido bem, que era melhor ter tido tudo aquilo com ele, por mais que nunca tivessem sido namorados, mas eram amantes, há mais de um ano, e eles já tinham demonstrado algumas vezes o quanto se importavam um com o outro e ele já tinha salvado-a das guarras de sofrimentos amorosos algumas vezes, parecia até que era para isso que ele existia. Sim, escolheu certo. Sentia-se muito mais mulher, apessar da pouca idade. Uma pequena sensação de culpa ainda permancia dentro dela, mas deu de ombros, afinal, era inevitável.

~ por M. em junho 20, 2005.

Uma resposta to “Inevitável”

  1. Às vezes eu acho que você poderia compor um roteiro de filme apartir de cada post! Você consegue prender meus olhos tão facilmente, fazê-los correr por cada palavra, conforme você quer… é foda…

    Ainda duvida se tem potencial pra escrever um livro.

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