Uma decisão

Nesses tempos digitalizados, só não é encontrado mesmo quem não quer, só não encontra quem quer quem não procura direito. Helena estava numa tarde nublada sentada em frente ao computador e acabou de achar a pessoa que tinha decidido procurar. Pensou que a primeira coisa que iria querer fazer era dizer: Olha, eu estou aqui, eu te achei, agora ainda poderemos manter algum contato, ainda que seja virtual, eu permanecerei mais presente um sua memória e vai ser mais difícil vc me esquecer, porque eu não vou deixar. Mas ao se deparar com o nome e a foto dele ali, se deu conta de algo, algo que provavelmente ja devia ter se dado conta antes, mas como doía demais pensar daquela maneira, ela sempre

adiava.

Helena já sabia que a vida dele não compatia mais com a dela (na verdade a vida deles nunca compatiu, mas agora tornar-se-ia demasiado diferente) e que ele agora teri muitas coisas novas q pensar, conheceria muita gente, estaria muito mais ocupado, sem contar com que ainda havia aquela pessoazinha que se punha no meio dos dois, sempre atrapalhando tudo, ainda que não tivesse sucesso sempre, era bem desagradável.Ela viu então que tinha em suas mãos duas opções, ou apertava aquele único botãozinho pra continuar sonhando que aconteça alguma coisa, que ele finalmente pare de fingir não se dar conta de nada que acontece ao seu redor, e continue esperando esse dia, sem ao menos ter a esperança de que um dia ele realmente chegará, ou ela podia escolher não apertar o botão, ir se afastando aos poucos, fazer com que ele use o espaço da vida dele que era reservado a ela, ser preenchido por outras das coisas/pessoas que estavam prestes a chegar. Ela fez sua escolha e ela foi a segunda opção, começou então a mudar seu pensamento, talvez fosse mais fácil, ir se afastando aos poucos, assim, quando a separação tivesse que ser inevitável, eles nem sentiriam, pois ela já havia acontecido ao longo do tempo. Ele provavelmente nem sentiria, apenas se lembraria dela num dia específico do ano, se lamentando não ter mais contato e nem intimidade com uma amiga que um dia gostou muito dele. Mas ela não, durante o processo de esquecimento, sofreria, perderia sonhos e noites em choro, até que um dia, acordaria apenas com uma vaga lembrança dos bons momentos, escreveria outra carta sem inteção nenhuma de entregá-la dizendo tudo que um dia ele significou pra ela e se despedindo, e então a colocaria junto com as outras cartas no báu do passado e passaria a chave.

~ por M. em dezembro 22, 2004.

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