Castanhos

O seu problema é que não sabia, ou melhor, não queria acreditar que aquele pedido, feito naquele lugar que ela resolvera abandonar antes mesmo de visitar fosse apenas carioquice corriqueira. Necessidade de simpatia, busca da obteção de um sorriso? Ela não era muito dada a super-analisar situações a não ser que tivesse que falar delas, mas aquela, aquela tinha sido diferente. Assim que sentara-se na segunda van ( fizeram -lhe trocar o lugar- a primeira, uma van espaçosa e de ar condicionado, a segunda, pequena, suja, aberta) voltava o pensamento naquele rosto e o estilo mais que enigmático, tinha um quê de excentricidade.
Não que fora isso que lhe atraia. Primeiro, eram os cabelos, que eram longos. Não obstante, sempre soube-se que ela tinha um fraco pelos olhos castanhos e os deles, já se encontraram algumas vezes em alguns aniversários ao longo de três anos. Os dele, um ou dois tons acima do dela. Sempre são, uma vez que o dela, cor de mogno de qualidade, são difíceis de encontrar. Além do que, era inteligente. Não só isso, mas a impressão que ela tinha é a que ele era mais do que ela, mais do que uma pessoa conseguia abarcar e era isto. Em questão de homens e mulheres, sempre havia que ser mais. Nunca um nível de cultura abaixo. Imperdoável não conseguir ler e formular opiniões. Talvez antes ou depois de ir para cama, ele lhe recitasse poemas. Imprevisível.
Mas fora um pedido, eles que não tiveram coragem de aproximarem para uma despedida como se realmente se conhecessem, porque, na verdade, não. E estrategicamente, o convite fora feito na primeira pessoa do plural ao invés da primeira do singular. Nós quem, nós quem? Nós – você? Vou.
À primeira oportunidade. Castanho – Castanho – Preto – Branco. Textos. Ela, só escreveria sobre o tom amarronzado, quase preto. Ele, do preto de bolinhas brancas da blusa de alça, do sutiã preto aparecendo, do sinal no seio, demarcando, marrom, castanho. Um mundo.

~ por M. em setembro 6, 2008.