Convi(venie)ncia

Quando perguntavam a ela porque não gostava de Emma, nunca tinha a resposta na ponta da língua, como o motivo pelo qual não gostava de qualquer outra pessoa. Ela sabia que pelo menos a si não poderia dizer algo como “os santos não batem” ou simplesmente “não simpatizo com ela, não faço questão”. Tudo desandara no momento em que se conheceram.
Um dia, ela havia simpatizado com Emma, antes de a conhecer. Sabia dela apenas por histórias e fotografias, parecia haver, antes disso, um interesse recíproco, como se ambas soubessem que seriam um dia grandes amigas, ou que, pelo menos, deveriam ser.
E foi no momento que se olharam pela primeira vez que tudo desabou. Nós todos sempre fazemos imagem das pessoas o tempo todo. Com a impossibilidade de apreender o outro de forma plena, o preenchimento fatalmente dá-se a nível de imaginação e expectativas, porque sim, a gente precisa completar.
E a grande cartada, você realmente se acerta com alguém quando de alguma forma essa pessoa é melhor do que a pessoa na sua cabela. Ela sempre soube que fora muito boa em construir mentalmente pessoas perfeitas mas que isso atrapalhava suas chances na vida real onde a perfeição não é um padrão válido.
Emma não superou as dela. A Emma dela de alguma forma era muito melhor, mais inteligente, mais interessante, melhor, enfim. Ao olhar para o ela de verdade, ela sabia que estava tudo acabado, que não seriam amigas e que teriam que conviver de uma forma ou de outra e o fato de não realmente ligarem uma para a outra lhe traria problemas. Ou não.
Seguiu-se a isso um pacto tácito de se tratarem como se ligassem. Cordialmente e quase, quase de forma sincera.Afinal, convivência…

~ por M. em agosto 10, 2008.

Uma resposta to “Convi(venie)ncia”

  1. É quase impossível não criar nada a respeito de alguém antes de perceber, no dia-a-dia, quem é a pessoa por baixo das nossas expectativas e fabulações. É involuntário, né? Eu acho que faz parte, que deve acontecer com todo mundo, e por isso tento não me importar com todsas as possibilidades de frustrações e embaraços que esse comportamento pode suscitar.
    Às vezes acontece também da pessoa ser bem diferente do esperado, mas ser um diferente tão melhor, ou mais agradável. Mas, não parece o caso de Emma.
    O que resta a fazer é relxar, né? Aquela estória do “deixa fluir/deixar quieto”. Se não encaixa a imagem formada ao que a pessoa é, e se isso incomoda, o que fazer? Não é culpa de ninguém (eu acho, rs).

    Beijinhos!

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