Fades just like a dream

Quando eu fazia terapia, todos os meus analistas sempre insistiam pra fazer o tal “diário dos sonhos”. Nunca consegui. A minha maior dificuldade sempre foi lembrar as circunstâncias dos meus sonhos. De alguma maneira, eu sempre só consegui reter os personagens, nunca o enredo.
Então nas manhãs seguintes, eu sempre só conseguia dizer: sonhei contigo. E o relato parava por aí por falta de informação.
Faz um tempo que tem uma pessoa que aparece insistentemente como personagem coadjuvante nos meus sonhos. Não sei bem a função porque não lembro das histórias mas acho que não tem nenhuma. Pelo pouco que consigo me lembrar, a pessoa parece mesmo meio que uma aparição. Que eu me lembre, não fala nada. Sempre achei que a única função fosse me lembrar que existe. Existe?
De qualquer forma ela está ali, quieta e sem chamar a atenção. Uma imagem meio fantasmagórica, mais ou menos como a da vida real, de agora.
Lembro da época em que passei a mão ou algum dedo bem de leve pela parte debaixo das suas costas e perguntei o que estava escrito ali. Recebi a resposta num pedaço de papel que até pouco tempo ainda andava pelo meu estojo. “Infelicidade é questão de prefixo”.
E os sonhos, são só pra me lembrar que ela existe, apesar de naquela época eu ter cismado em querer fazê-la personagem principal. O que eu ainda não tinha atinado é que ela é o tipo de pessoa que apaga a si mesma, que vai para o canto e foge dos flashes.
Ao que parece, não a mim mas ao mundo, em geral, essa pessoa coloca os prefixos um a um e se prostra diante deles. Não servem nem como obstáculos.
Felizmente, aqui restam os sufixos.
Os radicais são os mesmos mas em sentidos opostos.
E ela existe?

~ por M. em julho 9, 2008.

Uma resposta to “Fades just like a dream”

  1. É estranho recorrência de pessoas em sonho, não é? Eu acho tão esquisito, porque às vezes se dá com gente cuja proximidade é mínima. E fica aquela coisa de ter compartilhado algo, mas que na verdade, foi sonho.
    Legal esse jogo com sufixos, prefixos radicais. Também, é interessante ver que há autonomia nas pessoas quando não fazemos delas figuras particulares, personagens. Elas existem. Gosto quando você ressaltou isso.

    Beijos.

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