Fades just like a dream
Quando eu fazia terapia, todos os meus analistas sempre insistiam pra fazer o tal “diário dos sonhos”. Nunca consegui. A minha maior dificuldade sempre foi lembrar as circunstâncias dos meus sonhos. De alguma maneira, eu sempre só consegui reter os personagens, nunca o enredo.
Então nas manhãs seguintes, eu sempre só conseguia dizer: sonhei contigo. E o relato parava por aí por falta de informação.
Faz um tempo que tem uma pessoa que aparece insistentemente como personagem coadjuvante nos meus sonhos. Não sei bem a função porque não lembro das histórias mas acho que não tem nenhuma. Pelo pouco que consigo me lembrar, a pessoa parece mesmo meio que uma aparição. Que eu me lembre, não fala nada. Sempre achei que a única função fosse me lembrar que existe. Existe?
De qualquer forma ela está ali, quieta e sem chamar a atenção. Uma imagem meio fantasmagórica, mais ou menos como a da vida real, de agora.
Lembro da época em que passei a mão ou algum dedo bem de leve pela parte debaixo das suas costas e perguntei o que estava escrito ali. Recebi a resposta num pedaço de papel que até pouco tempo ainda andava pelo meu estojo. “Infelicidade é questão de prefixo”.
E os sonhos, são só pra me lembrar que ela existe, apesar de naquela época eu ter cismado em querer fazê-la personagem principal. O que eu ainda não tinha atinado é que ela é o tipo de pessoa que apaga a si mesma, que vai para o canto e foge dos flashes.
Ao que parece, não a mim mas ao mundo, em geral, essa pessoa coloca os prefixos um a um e se prostra diante deles. Não servem nem como obstáculos.
Felizmente, aqui restam os sufixos.
Os radicais são os mesmos mas em sentidos opostos.
E ela existe?
É estranho recorrência de pessoas em sonho, não é? Eu acho tão esquisito, porque às vezes se dá com gente cuja proximidade é mínima. E fica aquela coisa de ter compartilhado algo, mas que na verdade, foi sonho.
Legal esse jogo com sufixos, prefixos radicais. Também, é interessante ver que há autonomia nas pessoas quando não fazemos delas figuras particulares, personagens. Elas existem. Gosto quando você ressaltou isso.
Beijos.
Bruna Maria said this on julho 10, 2008 às 4:35 am