Tentava fechar um ano que se passou dentro da caixa. A caixa que já era a segunda e guardava todas as lembranças em letra itálica, escritas sonolentamente a mão seja em noites ou ainda no dia seguinte. Aquela agenda em sua mão, aquele bloco de notas, aquelas brigas, aquelas palavras e despejos, todo contra indicações dos remédios que tomava, metade dela em palavras ali. E seria a última, teria agora que arranjar uma terceira caixa e mais espaço para guardar o passado ao qual custava – lhe tanto deixar para trás.
A agenda não entrava na caixa, o ano que passou teria sido grande demais, pesado demais, foi de-mais.
Só resta agora esperar que se acorde no novo.

~ por M. em janeiro 19, 2008.

Uma resposta to “”

  1. Adorei esse texto!
    Por que a necessidade de guardar em caixa o que passou? É como compartimentar: nessa caixa, o ano passado; na outra, o retrasado.
    Guardamos tudo separadinho, de acordo com critérios – sejam cronológicos, ou seja quiasquer outros. E, se não optamos por jogar fora, mas guardar, é porque no fundo devemos achar que alguma coisa ali ainda vale; e talvez um dia recorramos aos guardados pra recuperar uma parte nossa, uma lembrança de experiência, ou alguém.
    Mas por que não deixar tudo entregue à própria sorte, não guardar nada, deixar tudo seguir em aberto, respirando, se misturando ao que é presente?
    Eu não consigo fazer isso com muito sucesso. Tento sempre meter nas caixas o que passou também.

    É bom precisar de mais de uma caixa pra guardar as coisas, não? Sinal de muitos acontecimentos. Mesmo que nem todos tenham sido bons, acontecimentos ajudam a nos movimentar.

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