Diálogo

– O que quer dizer, a tatuagem?
À simples menção daquela pergunta fizera seus olhos brilhar como todas as vezes em que ele perguntava alguma coisa sobre ela, dela, que não envolvesse ninguém mais. Era raro. Ele era do tipo que gosta de falar e fica tagarelando e redizendo-se sempre a todo instante.
Ela começava a explicar atrapalhada pela emoção eufórica, palavras se embrulhavam e ela se perguntava como iria explicar um aspecto da literatura e mitologia clássica para alguém que não lia. Como haveria de fazê-lo enxergar o significado maior daquilo tudo, daquilo nela, da sua vida, também?
Como dizer que aquela palavra continha também eles dois, ali deitados na cama, ele por cima dela, ouvindo atentamente àquela explicação desajeitadamente animada, que lhes era fatal: não poderia ser de outra maneira.
Quando terminou, suspirou de alívio e satisfação mas havia algo errado no olhar dele:
– Ah, o que foi? Você está com uma cara…
– Não, é legal…
– É coisa minha.
– Você é muito complexa. E você sabe o que eu quero saber. Por que é que não me diz de uma vez o que você tem?

Mas não poderia, acabara de mais uma vez, ser rejeitada pela complexidade de seu mundo.

~ por M. em outubro 28, 2007.

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