Foreign people

Lindando durante mais da metade da semana com pessoas que, desconhecem em mim um tanto mais do que só a maneira de me expressar (seja por que meios forem), qualquer pessoa, assim como eu, teria questões a pensar (sendo estas pertinentes ou não, o que não cabe a mim julgar).
Estive percorrendo terras estrangeiras por um tempo demasiadamente pequeno para que pudesse presenciar, ser vítima ou produtora de choques culturais e disparidades mais significativas do que a minha incapacidade de dizer ” I´m so sorry” ao invés de ” desculpe-me” ao esbarrar nas pessoas na terra de tio Sam.
Fui muito bem recebida lá na torre de Babel. Sorrisos vários por mais uma ajuda na empreitada de uma nova vida. Eu aparecia como uma alternativa, um mergulho em terra distante dentro da própria terra distante em si.
O que noto são olhares curiosos, espreitantes, à procura de algo que me caracterize dentro de minha cultura, mais do que o simples fato de ser o português-brasileiro a minha língua materna.
Como explicar q , como eu, muitos brasileiros tem essa pele excessivamente branca? Como explicar a aparência as vezes intelectual, as vezes exagerada, as vezes díspare com meu sexo e excessivamente americanizada? Como explicar os caminhos que me levaram a um caminho oposto à brasilidade natural que deveria subsistir em todos nós, como e o que dizer da falta das características que nos gabam todos eles, que eu não sustente o molejo sensual e ardente de uma Rita Baiana, mas que meus olhos escuros, cabelos cacheados e boca volumosa não neguem a latinidade genética?
Todos eles me parecem mais brasileiros, no sentido clichê do termo do que eu; com suas peles bronzeadas e seus trejeitos já tão tropicais.
Pulam dentro de uma nova cultura amando ainda a sua própria, desejando poderem vez ou outra, ainda dizerem-se em seu idioma materno, como vi pelo brilho nos olhos de Kolja ao descobrir que eu estudo alemão e sua decepção frente à minha negativa parcial ou como os outros latino americanos que insistem no seu castellano na maior parte do tempo.
Sou, para eles, o paradoxo cultural.
Uma das chinesas – cujo nome me foge – já de meia idade ou quase lá, que viveu naquela China comunista e grande censora, castradora, cujas marcas se percebem na mulhes esperançosa, um tanto quanto caótica e ávida por liberdade o demonstrou quando veio ter comigo em particular acerca de minha beleza. Linda, ela disse. No mesmo dia, mais tarde, o dia em que eles estudavam os arquétipos dos orixás, ela tentava me encaixar, não como filha de orixá, mas como a possível encarnação de alguma divindade – concusão que foi tirada tendo como fator a minha vaidade e o gosto tanto por acessórios móveis quanto corporais.
Talvez a procura do que eles esperam ver em mim estenda-se indefinidamente ou talvez eles cheguem as mesmas suspeitas que eu: as das múltiplas nacionalidades, presentes no pressentimento dos antepassados espanhois e a adoração da música andaluza somado ao temperamento intenso-dramático junto com o espanhol fluente adquirido ainda na infância, a manutenção do american way of life em todos os setores da minha vida juvenil e as futuras fantasias germânicas.
Chegarão um dia à certeza de que, também a minha alma é estrangeira?

p.s. estou la ha pouco tempo, esse texto pode ( e deve ser) bastante superficial.

~ por M. em abril 30, 2007.

2 Respostas to “Foreign people”

  1. “…brasilidade natural que deveria subsistir em todos nós…”

    Posso estar enganada, mas acho que só estrangeiros acreditam nisso como sendo um sistema fechado e infalível pra encaixar alguém em determinado esteriótipo.
    Eu, por exemplo, enquanto estrangeira, me vejo analisando os germânicos dentro de um grupo fechado de características e talvez, se um dia eu estiver na Alemanha, eu venha a me decepcionar e procurar incessantemente satisfazer essa minha visão esteriotipada. Creio que entrarei num certo conflito, assim como, pelo que me pareceu no seu texto, essas pessoas da “Torre de Babel” entram com contato com você.

    Não dá pra limitar assim essas coisas, apesar de muitos se esquecerem disso – inclusive eu. A gente vive num mundo diferente, onde as pessoas dos mais distantes países já não conservam caracteres como vemos em personagens. A gente tem acesso a uma porção de coisas, mundo globalizado e coisa e tal. Lógico que algumas populações são mais arredias às influências, mas todo mundo se “descaracteriza” um pouco dentro desse quadro “moderno”.
    Então esperar certas características “de brasilidade” deve ser meio frustrante. Acho difícil encontrá-los em alguém, a ponto de satisfazer esse fetiche que é criado sobre uma identidade, algo assim.

    Ufa. Posso estar viajando, mas escrevi o que senti, rrs.

    Beijos!

  2. mas sim, é isso mesmo. =]

Deixe um comentário