É por isso

” E eu aqui me obrigo à severidade de uma linguagem tensa, obrigo-me a nudez de um esqueleto branco que está livre de humores. Mas o esqueleto é livre de vida e enquanto vivo me estremeço toda. Não conseguirei a nudez final. E ainda não a quero, ao que parece.”
[ Água viva – Clarice Lispector ]

Ainda tenho guardada uma pergunta feita numa conversa de msn. Eu imprimi e escrevi em letras grandes de hidrocor vermelho: desenvolver.
Ainda nem comecei. Eu estava indo muito bem, até janeiro. Já tinha atingido o patamar dos ” arranjos muito bem feitos”, embora eu não os tenha feito de verdade. Eles apenas saíram. Todos os dias eu me sentava para escrever e as palavras jorravam como de uma fonte que dar de beber a um vilarejo inteiro. A fonte parece ter secado agora.
O resultado não acabado daquilo que comecei era exatamente o esperado.Uma influência inegável da leitura acima. Quase uma releitura. Uma coisa muito minha de um “eu” para um “você”. Não poderia nem dizer uma versão clariceana do século XXI. Além de ser muita pretenção minha, não tinha tempo, era para dentro.
Tenho muitas coisas a “desenvolver” e quando sento para escrever, não consigo. Retrocedi mil passos, voltei ao ponto de partida.
Um dia eu respondo com palavras próprias o porquê. Nem que para isso eu precise criar outro destinatário.
Porque criar nunca foi meu ponto forte, fingir sim.

~ por M. em abril 3, 2007.

Uma resposta to “É por isso”

  1. Às vezes a criação é vista como mentira. Depende muito do ponto de vista.
    Acho que é bom respeitar os tempos e não forçar que a fonte, agora seca, comece a jorrar algo. O silêncio é muito necessário, e fortalece os resultados que o seguem, na minha opinião.

    Mudanças aqui. Azul é uma boa cor! 🙂

    Beijos!

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