Tu já pensou em fazer análise?

Como mulher que ainda não me considero ao completo, a minha as vezes falta de beleza, me traz recalque e amargura, aquela coisa inevitável de falar mal justamente por querer ser igual. Mas isso, existe em mim em escala menor. Maior em mim é a vaidade intelectual. Eu posso não ser a mais bonita, mas na maioria das vezes, sou uma das mais inteligentes. Inteligente no que eu quero, veja bem. A minha inteligência é limitada a certas áreas, mas dentro destas, é infinita. Eu me vejo na obrigação – e sem que ninguém me cobre – de provar o tempo todo que eu sou muito inteligente, que vez ou outra, chego a beirar o brilhantismo, que eu posso não saber o que eu estou fazendo, mas que aos 45 do segundo tempo, eu tenho aquele estalo e as idéias surgem como que do Divino. São nessas horas que faço aqueles trabalhos que, quando vou ler, eu digo: Ficou muito, muito bom! É nessa hora que reclamam a minha modéstia. Não tenho! Não tenho mesmo. Eu prefiro fazer meus trabalhos sozinha, sou do tipo que carrega grupo nas costas pra ter certeza que as coisas vão sair do meu jeito, como eu pensei. E se o grupo insistir mesmo numa participação mais ativa, eu quase sempre consigo convencê-los a seguir a minha linha de raciocínio. Nenhuma nota baixa, até hoje, nesses casos. E aí, eu me torno uma pessoa extremamente arrogante em cima de todo o meu “conhecimento”. Mas ainda aprendo.
Todo mundo sabe, que dentre todas as minhas pretenções, a maior é escrever. Eu nem sei se escrevo tão bem assim, para falar a verdade. Ter um certo conhecimento de literatura, me fez ser uma pessoa muito crítica com relação ao que é e o que não é bom, entre o que é literatura. Apesar de não achar lá essas coisas, nem particularmente brilhante, eu tento. Pode ser que eu apenas escreva bonitinho, pode ser que eu tenha uma facilidade maior de dizer, nas palavras de computador e de papel, aquilo que as pessoas normalmente não conseguem dizer. Mas isso, dizem, se aprende, como dizem também, se aprende a desenhar, até uma pessoa como eu, que não sei fazer uma linha reta.
Sigo tentando. E de verdade. Até que chega alguém e reduz o que escrevo a caso de análise, caso de análise por ser “complexa demais”. Agora eu não posso mais ser complexa, eu preciso ser plana e simples e me contentar com a mediocridade como tanta gente que faz anos de análise e ainda assim não tem a coragem de contar mesmo tudo o que acontece na sua vida por medo de que o analista vá brigar ou aquelas pessoas que ao sairem do consultório esquecem tudo o que acabaram de ouvir, aquelas que insistem em não crescer, em não aprender.
Logo eu, que fiz rodízio de analistas desde que meus pais se separaram, depois porque eu estava me perdendo, depois porque fiquei um mês na cama porque meu namoro acabou…
Sim, eu já pensei, ainda penso. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa, é outra coisa. Não te ensinaram que as vezes, a interpretação psicológica de algo que se escreve, é, a interpretação mais ingênua que se pode fazer daquilo? E são esses os futuros psicologos que estão formando. Aqueles que não conseguem suportar a complexidade e que não tem nada inteligente a dizer.

~ por M. em dezembro 3, 2006.

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